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Tem vinho, romance, João Marcelo e poesia!!! (e tem eu)!!!!
Não conheci o João Marcelo por acaso. Não fomos apresentados um ao outro por nenhum amigo em comum. Na verdade, a gente se conhece desde sempre!
Eu vi o João Marcelo ainda bebê!
Eu tinha uns doze anos, então, essas lembranças são escassas, porém, suficientes para que identificássemos uma enormidade de coisas e gostos em comum!
A gente se reencontrou no clube! E entre uma cerveja e outra, falamos sobre música, poesia, viagens e projetos de vida.
Foi quando ocorreu à ideia de frequentarmos juntos, toda quinta feira, o sarau de poesias que acontece na casa de dona Júlia.
O tempo foi passando e a cada semana, João voltava mais empolgado dos encontros com a turma de poetas bacantes: (Babi, Kaka, André, Duda, Evandro, Flávia, Lígia, Bianca, Dani, Kelly, Fernando e mais meia dúzia de novos empossados).
João Marcelo tem se deleitado recitando Drummond, Leminski, Castro Alves, Ramon Mello, Karla Sabah e tantos outros! (ele curte poesia erótica)!
A gente tem se divertido entre robustas taças de vinho, cortinas de fumaça, piadas sórdidas; e claro, muita poesia na veia!
A nossa convivência evoluiu a ponto de a gente se ver todo santo dia. E as nossas saídas furtivas parecem ter repercutido negativamente dentro de sua casa.
Senti isso na própria pele, na última quinta feira.
Cheguei à casa do João Marcelo por volta das quinze pras oito!
O sarau estava marcado para as oito e meia! Não chegaríamos atrasados.
Eu trazia comigo alguns pacotes e lá dentro, além de livros e anotações, havia também alguns maços de cigarros e duas garrafas de vinho tinto!
Toquei o interfone. João Marcelo atendeu e disse:
“ - Will; me atrasei no banho.
Marca uns dez minutos que eu vou botar a roupa e tô descendo”!
Fiquei aguardando do lado de fora e aproveitei pra acender um cigarro. De repente, o portão principal se abriu nas minhas costas.
Era dona Laura, mãe dele, com uma cara de poucos amigos!
Não respondeu aos meus cumprimentos. E foi enfática no seguinte comentário:
“ - Eu queria te dizer, Sr. Will, que eu não estou gostando nem um pouco desse negócio de o João Marcelo frequentar saraus de poesia.
Agora é isso, toda quinta feira, é essa palhaçada”!
Tentei amenizar:
“ - poesia é o que dá adorno a vida, dona Laura, a senhora sabia disso?
Eu acho que a Senhora deveria se juntar a nós qualquer dia desses!
Seria muitíssimo bem vinda”!
Definitivamente, dona Laura estava pouco se lixando pros meus argumentos.
Tratou de complementar o assunto com mais uma grosseria:
“- Olha aqui, meu querido! Pra mim, isso é tudo uma grande bobagem!
Vocês são uns desocupados, metidos a besta que se enfiam nesses saraus pra beber e fumar feito uns desesperados.
Eu não quero o meu filho andando com gente dessa estirpe.
João Marcelo tem só 17 anos”!
Eu estava com vontade de xingar dona Laura dum monte de coisas esdrúxulas, mas me contive! Afinal, ela é mãe do carinha com quem eu estou saindo!
Enquanto forçava um sorriso, falei entre os dentes:
“ - o João Marcelo é bem grandinho, dona Laura! Eu posso te garantir que ele está em boas companhias! E mais tarde, ele voltará para casa são e salvo”!
A mulher estava amarga feito fel.
E a demora do João contribuiu para que ela dissesse mais outra pérola:
“ - eu criei o João pra ser jogador de futebol, não um poeta! Esses antros aonde vocês vivem enfurnados só tem gente vadia, sonhadora, buliçosa e alcoólatras!
Poesia não dá dinheiro, meu caro! Já os jogadores de futebol, esses sim, ganham rios de dinheiro e vivem rodeados de loiras bonitas e bem aceitas”!
Pra mim foi demais. Não me contive e rebati à altura:
“ – olha dona Laura, é por causa de gente feito a Senhora que esse país é uma merda! Só tem boçais disfarçados de grã finos. Uns estúpidos, umas bestas incapazes de semear alguma coisa que preste!
Eu não sou obrigado a ficar aqui escutando isso”!
João Marcelo apareceu e ficou todo sem graça por causa dos absurdos ditos pela mãe. Resmungou umas meias verdades contra ela e finalizou com uma frase bastante sonora:
“ - não enche o saco; porra”!
Tem sido assim o tempo todo! Dona Laura sempre arranja um jeito de tentar tumultuar o vínculo afetivo que me liga ao filho dela.
Ela já deveria ter atinado que eu não sou do tipo que desiste fácil!
Outro dia a gente estava de papo na internet. O João havia esquecido o celular no banco de trás do carro.
Fiquei zoando ele por causa da devastação progressiva dos seus neurônios.
Do outro lado, rindo sem parar, pediu que eu telefonasse pro seu fixo.
Liguei. Dona Laura atendeu secamente, mas eu prossegui:
“ - Oi dona Laura, tudo bem? Eu quero falar com o João Marcelo”!
Ela, como sempre afiada, rebateu: “ - o João não está em casa”!
Perdi as estribeiras mais uma vez:
“ – dona Laura, por favor, eu estava na internet com o seu filho nesse instante e foi ele quem me pediu que ligasse pro telefone de casa”!
Ouvi quando João Marcelo tomou o aparelho das mãos da mãe.
Ela saiu dando uns berros pela casa.
Ele entrou no quarto, trancou a porta e ficamos de conversa até às duas da manhã.
Na boa, graças a Deus, o João não puxou a mãe. A mulher tem um gênio ruim, sabe? Eu não tenho a menor simpatia por gente que detesta poesia!
Nesse caso, pra mim, até o diabo tem mais serventia!
Não sei como o João aguenta! Fazer o quê, né? Mãe é mãe, tem que se respeitar!
O pior embate entre mim e dona Laura aconteceu no domingo à noite!
Eu tive que dar uma passada na casa da família para entregar o tablet do João, que havia ficado esquecido em cima duma mesa da cantina do clube onde frequentamos. (Super cabeça de vento, esse guri)!
Dona Laura me interceptou no portão e com olhar fulminante indagou:
“ - Will, eu posso saber o que você e o meu filho fazem quando estão juntos”?
Por alguns instantes, fiquei ali, perplexo, paralisado diante daquela mulher, enquanto a minha mente percorria um vasto acervo de lembranças recentes vividas na companhia do João Marcelo, no entanto, tomado de súbito, fiquei hesitante em relação ao quê responder?.!
Eu e o João Marcelo somos acima de qualquer coisa, grandes amigos!
Ele é um dos caras mais divertidos; de alma leve e pura que eu já conheci!
Tem um papo bom, ri espontaneamente das coisas bobas que fazemos juntos e adora fazer piada dos dissabores cotidianos.
Ele é figurinha carimbada no sarau de poesias, todos gostam do seu jeito tímido e um tanto arredio na hora de declamar Camões (por exemplo).
Volto e meia me flagro olhando pra ele com cara de boboca enquanto estamos bebendo vinho e ouvindo música.
(ultimamente temos escutado todas as canções do disco novo do
Lucas Santtana – ‘Sem Nostalgia’).
A nossa relação é quase um arrebatamento, suspensa pela melodia dos discos, pela fumaça dos cigarros que fumamos emparelhados e pelo atrito ritmado de nossa ginga corporal.
Mas vocês estão curiosos pela minha resposta, né mesmo, Senhoras e Senhores do Jornal O Cidadão?
Primeiro eu apimentei com a seguinte indagação:
" - a senhora quer mesmo saber a verdade, dona Laura"?
E ela ainda mais enraivecida, só faltou gritar:
“ – absolutamente, queridinho! Somente a verdade, nada mais que a verdade, fui pouco clara”?
Então eu disparei:
“ – sexo, dona Laura! Eu e o João Marcelo fazemos sexo quando estamos juntos”!
Dona Laura ficou branca feito uma folha de papel. À medida que ela apresentava sinais de tontura, eu me afastava. Até que alguns minutos depois, ela não aguentou o peso do próprio corpo e caiu desmaiada.
Eu entrei no carro, olhei pelo retrovisor, ajeitei o cabelo, acendi o meu cigarro, dei um sorrisinho safado e fui embora de volta pra minha casa.
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