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Quando a dor se sobrepõe a todo o resto!
Fiquei horas a fio pensando se escreveria, ou não, alguma coisa que fosse realmente válida, a respeito da tragédia ocorrida em Santa Maria (RS), na madrugada de 27 de janeiro.
Não cheguei a nenhuma conclusão!
Acredito que assim como eu, quase ninguém conseguiu atinar o fato em si até o momento, mas mesmo assim, resolvi quebrar o silêncio doloroso e ensurdecedor que me aplacava desde então, e a duras penas, reuni um fiozinho de força e raciocínio coerente para discorrer algumas palavras que expressassem a minha profunda tristeza, angústia e desespero mediante mais essa catástrofe de proporções irremediáveis.
Devo confessar que, enquanto escrevia esses dois primeiros parágrafos, parei diversas vezes e fiquei relutante se prosseguia com a narrativa!
A realidade veio dar na minha cara, um golpe tão violento, onde nada, nem ninguém são capazes de me convencer sobre alguma razão plausível que servisse como argumento para tamanha desgraça.
Trata-se, de fato, duma tragédia sem precedentes!
Não se fala doutra coisa ao redor do mundo todo!
A estupefação causada pela morte de centenas de pessoas, em decorrência do incêndio na boate Kiss, baqueou e enlutou os corações dos brasileiros, porém, nada basta como resposta!
Sobraram lágrimas, faltaram gestos consoladores, abriu-se uma cratera ainda mais profunda do que o tal buraco negro que os cientistas garantem haver no espaço sideral.
Ninguém sabe o que fazer; o que dizer, nem como assimilar a brutalidade com que tudo ocorreu.
Os noticiários alardearam imagens aterrorizantes desde as primeiras horas do fatídico domingo! O que vimos foi um amontoado de cadáveres expostos em todos os veículos de imprensa, a céu aberto. E as informações?
São muitas, mas todas elas não passam de mais um bocado de mesmices vãs que só servem para aumentar o flagelo dos espectadores catatônicos!
Não vou mensurar o drama das famílias, pois não poderia dimensiona-lo!
Não existe alento no meio do caos! O caos parece não terminar!
Jamais esqueceremos esse horror, ainda que vivamos por outros duzentos anos!
Acompanhei silencioso por intermédio das redes sociais, a enxurrada de comentários e fotografias a respeito do acontecimento. Não teci os meus! Não pude!
Não dava pra ser mais um a acrescentar achismos e especulações infundadas, no entanto, em todos os momentos não me contive, chorei livremente a torrente que me inundava o peito, olhos, alma e existência!
Sou frágil demais mediante as mazelas que me cercam, não teria que ser diferente, afinal de contas, sou um cara comum feito tantos outros todos que existem por aí.
Sobre os alardes virtuais, faço uma ressalva:
Teve um comentário, postado pela minha amiga Roberta Ferreira, do tipo bem simples, enxuto, mas que pra mim, foi o que ‘bateu’ realmente!
Ela escreveu: “ - Sempre posto sacanagens aqui, mas diante dos fatos; nada a declarar”!
A objetividade da citação enfatizou exatamente a ‘bandeira’ que eu carrego comigo!
A alegria de viver que essa amiga propaga a sua volta; encaixa-se plenamente à minha! Vai ver; é por isso, que nos admiramos tanto!
No entanto, a alegria tão visceral da Beta deu lugar ao vácuo deixado pela dor tão pungente que se destacava em todas as manchetes, adornando dum tom cinza escuro, a paisagem das horas vividas e sobrepostas ao desastre.
Mais uma vez chorei a minha impotência, o desolamento que me confinava, amofinava, acirrando o nó da minha garganta até atingir a explosão de soluços incontroláveis.
As pessoas que me conhecem sabem o quanto eu sou alegre!
Sou do tipo que faz piada até sobre os dissabores da rotina!
Quem acompanha as minhas crônicas aqui no espaço público, está farto de dar risadas com as histórias jocosas que invento, discorro e alimento de comicidade.
Os meus personagens estão sempre envolvidos em situações embaraçosas, provocam balbúrdias, alaridos, enfim, dão contorno a infinidade de tipos que existem dentro de mim, mas que não se enquadram a nenhum padrão da convencional vida real!
Ainda bem que pelo menos nas minhas histórias, tragédias feito essa que aconteceu em Santa Maria, são impensáveis! Nem nos meus delírios mais elevados, seria capaz de antever uma miséria dessas!
E olha que, sem falsa modéstia, eu tenho uma imaginação fértil pra cacete!
Quem me dera; pobre poeta que sou; que dizem que sou; pudesse por um instante, realizar a proeza de ter escrito a história daquelas pessoas que se encontravam presentes na boate Kiss?
Os escritores brincam de ser Deus em função do seu ofício! E isso é tão libertador! Porque quando escrevo, sou eu quem decide o que vai rolar, eu penso na frente dos outros, não cabe brechas para fatalidades tão absurdas e ao mesmo tempo tão humanas quanto à ocorrida!
Se o destino daquelas pessoas todas estivesse sob os meus dedos, elas teriam sim, assistido ao incêndio, poderiam, inclusive, elas mesmas terem botado fogo na coisa toda; não sobraria um fataco de pó sequer para lambuja, mas uma coisa é certa, não haveria nenhuma pessoa morta. Ninguém iria chorar desolados, a morte dos seus filhos, amigos, amantes, irmãos e afins.
Eu sempre priorizo o final feliz para a vida!
Ainda que não me iluda a respeito da morte!
E antes que algum fanático religioso venha encher o meu saco, me acusando de profanação, saliento: jamais contestaria os desígnios divinos!
Deus pra mim vai ser sempre soberano, onipotente, onipresente, acima de tudo e de todos!
E quando eu mencionei que gostaria de ‘brincar’ de ser Deus; em nenhum momento atribuí a Ele a responsabilidade pela desgraça ocorrida no Sul. Não mesmo!
Acredito piamente que se não fosse pela misericórdia de Deus, o número de mortos seria total, não sobrariam testemunhas para relatarem a sensação pavorosa que as labaredas infernais provocaram naquele lugar.
Estamos certos?
Certinho!
As investigações periciais sobre o incêndio não foram concluídas!
Ainda é cedo demais pra isso!
Tudo o quê se sabe, não passam de hipóteses!
Um novelo emaranhado de fatores que, desmantelados, a partir do uso inadequado de um sinalizador pirotécnico, desencadeou no desfecho trágico com que relutamos admitir.
A ficha não caiu pra ninguém! Estão todos entorpecidos pela tristeza!
Muita coisa ainda virá à tona. É provável que, por causa da imensa repercussão pela imprensa, os culpados sejam, de fato, responsabilizados pela tragédia!
E esses culpados, a princípio, são os donos do estabelecimento, não é mesmo?
Todo o resto é decorrência!
A boate Kiss não possuía saídas de emergência! Os espaços internos não estavam sinalizados adequadamente!
O alvará para funcionamento havia vencido desde meados de 2012.
Por se tratar dum lugar fechado, não deveriam ser permitidas de forma alguma, apresentações contendo fogos de artifícios ou similares! E consta ainda a afirmação dos bombeiros a respeito do material usado para o revestimento acústico da casa.
Todos esses itens (do revestimento em si); eram absolutamente inflamável e tóxico, fazendo com que entendamos de imediato, o porquê de as chamas terem se propagado de maneira tão instantânea e devastadora.
A maioria dos mortos, cerca de 90%, foi vitimada por asfixia e não pelas queimaduras propriamente ditas!
E tudo foi ‘lambido’ pelas labaredas em menos de quinze minutos!
Fiquei ruminando insistentemente sobre o seguinte aspecto: sou um frequentador inveterado de baladas noturnas!
Já fui, e vou, a diversas boates, cinemas, discotecas e outrens, assim como a grande maioria das pessoas que saem das suas casas em busca de diversão, daí; assenti - poderia ter sido eu, meus irmãos, amigos, poderia ser qualquer um!
Poderia, inclusive, ser você que está lendo esse texto agora.
Por isso, é importante tomar todas as precauções de segurança cabíveis.
Não interessa se a boate é famosa, se os seus donos são ilustres, se a mesma está localizada numa área nobre da cidade ou na periferia.
É importante avaliar todos os critérios vigentes. Sempre que for a um lugar dessa finalidade, verifique as saídas de emergência, suas sinalizações e as possibilidades de fácil evacuação, independente de qualquer outra coisa.
E se por ventura, constatar qualquer irregularidade, por mais simplória que se pareça, denuncie imediatamente aos órgãos responsáveis pela fiscalização e, caia fora, antes que seja tarde demais!
Nada poderá passar despercebido! Todo e qualquer ambiente que tenha como proposta, abrigar frequentadores, tal e qual a boate Kiss, devem ser submetidos a um rigoroso procedimento de inspeção e, caso haja irregularidades, nada de se ‘fazer vista grossa’!
As multas deverão ser altíssimas e aplicadas com a mesma eficácia com que lucram os empresários gananciosos que, superlotam suas casas noturnas, sem se preocuparem com nada e nem ninguém.
A lei existe pra ser cumprida!
E que no futuro, claro, não tenhamos nunca mais, de nos depararmos com calamidades feito esta, que destruiu os sonhos de tantas pessoas, todas tão jovens e com tantas aspirações pela frente.
Não se pode vacilar com relação ao bem mais precioso que existe:
a vida das pessoas!
Ps: a todas as vítimas envolvidas neste terrível desastre ocorrido em Santa Maria, fica o meu profundo pesar, respeito e absoluta homenagem!
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