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Dona Dedé tem cada uma!
Ontem, dia 25 de julho, foi comemorado o dia do escritor! Um dia para se fazer e receber homenagens.
E nesse clima literário, fui a Praia Seca bater um papo com uma figura sensacional chamada Deodete Fialho de Barros, moradora de Copacabana, mas que a vida toda teve casa aqui na cidade.
Dona Dedé simplesmente ama Araruama!
A entrevista estava agendada pra sábado, mas ela me ligou desmarcando porque ia jogar tranca com umas amigas, beber caipirinhas e comer sardinhas na brasa e, por isso, não seria possível conversar direito comigo, a não ser, é claro, ela fez questão de ressaltar, que eu fosse bom de tranca e tivesse disposição pra jogar “a vera”!
Ela aposta a dinheiro e sempre ganha!
Fiquei sabendo que as amigas voltaram pra casa, lisas, no sábado.
Dona Dedé ganhou uns R$ 5 mil.
Dona Deodete chegou bem disposta e já foi logo me dizendo:
"- tenho 80 anos, meu filho! Não tem nada que você ainda não imagine que eu não tenha feito! Eu nasci em 15 de maio de 1932, faz as contas"?
Pediu pra ser chamada apenas de dona Dedé. Deodete seria formal demais pruma conversa as 11 da manhã. Então, eu pedi que ela me chamasse apenas por Will e selamos assim, uma bonita amizade!
E foi logo indagando:" - quer tomar alguma coisa, menino"?
Eu pedi água de coco. E veio a réplica:
"- nossa, água de coco é bebida de donzela! Vai ficar apenas nisso? Eu sempre soube que os escritores eram boêmios"!
Argumentei que era muito cedo e que estava ali a trabalho, mas ela me pediu que ficasse bem a vontade. Então, pedi whisky.
E ouvi de dona Dedé:
" - Nice, minha filha, traz aquela garrafa de whisky e deixa aqui na mesa pro Sr. Will. Não quero saber de ninguém conversando comigo de “bico seco”!
Falamos primeiro de Jorge Amado. Dona Dedé conheceu Jorge e Zélia Gattai.
Sim, por anos a fio, dona Dedé ia pra Bahia a cada seis meses. Ela frequentava o terreiro de Mãe Menininha do Gantois.
Foi lá que conheceu muita gente famosa e "cheia dos requintes"; como fez questão de destacar.
Sobre Jorge Amado e Zélia, me disse que eles eram amáveis e apaixonados pela vida. O assunto se deu por causa da releitura de “Gabriela” para a tv.
Dona Dedé estava furiosa com a cena em que a mocinha era desprezada por todos, depois de ter cedido os prazeres da carne antes do casamento ao noivo sacripanta.
Deixei escapar que não dou importância a esse culto todo em torno da virgindade. E ouvi dela, com voz mansa a seguinte explicação:
"Sr. Will, no meu tempo, não tinha esse negócio de 'dar'. Se perdesse a virgindade desse modo dava até morte. As mocinhas ficavam todas desonradas! Eu casei moça! E não casasse pra ver, se Papai não me matava? Eu lembro que uma vez, eu mostrei o joelho pra Oswaldo, faltava seis meses pra gente se casar. Papai me deu uma sova de cacete que por pouco não morri. Depois disso, ainda fui posta numa banheira cheia de água salgada"!
Eu estava consternado, olhando fixo pra ela. Podia ver o brilho das lembranças iluminando aquele rosto.
E ela tratou de disfarçar:
"- e esse copo vazio? Trate de botar whisky aí, seu moço"!
Dona Dedé disse que eu parecia com João Marcelo, um 'don Juan' que ela conheceu no final dos anos 40.
" - coincidência"! (eu gritei)
"Esse é justamente o nome do meu alter ego"!
Bebemos juntos um cowboy duplo pra comemorar essa entusiástica passagem de nossa prosa.
Rimos muito.
Dona Dedé me disse que admira muito as pessoas que sabem usar de bom grado a imaginação. Falou ainda que não tem medo de nada, nem de morrer. Disse que já viu e viveu tudo. E que se sente saciada pelas alegrias e resignada pelas dores de outrora, mas que é uma sobrevivente.
Hoje em dia, não abre mão duma boa jogatina. Se pudesse, cochichou em meu ouvido, ia morar num navio cassino de luxo.
O tempo passou depressa! Era quatro da tarde e eu tinha que vir embora.
Eu não sabia mais em que botão apertava pra desligar o lap top!
A garrafa de whisky estava mais seca que a paisagem desértica do Atacama, no Chile.
(Sic)!
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