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As peripécias de Ratão e sua trupe de roedores!
A gente passa o ano inteiro trabalhando, correndo atrás do prejuízo, cumprindo as nossas obrigações familiares, profissionais e sociais e quando vai chegando meados de novembro, pronto, juntamente as perspectivas das férias associadas ao 13º salário, começa aquela explosão de ofertas, inovações tecnológicas, votos de solidariedade, (ainda que com sorriso amarelo), fazendo com que os sonhos da maioria sejam embalados num pacote volumoso com laço de fita vermelho. Estamos às vésperas do Natal e do Ano Novo!
Todo mundo jura que está disposto a se tornar um ser humano melhor nessa temporada! Todo mundo, menos dona Altira Monvale, ou será que ela ainda acredita que consegue passar despercebida mesmo diante suas maldades corriqueiras?
Altira Monvale, pra quem não conhece, é uma empresária trilhardária que mais parece mosca de padaria!
Basta ter açúcar, no caso de Altira, dinheiro, que ela ataca violentamente.
Não deixa nada sobre nada e abocanha tudo o que lhe é oferecido em se tratando de propinas, desfalques aos concorrentes, caixa 2, negociatas com bicheiros e deputados de capitais diversas, enfim, a palavra LUCRO, encabeça o glossário dessa temida mulher brasileira!
Dona Altira trata os empregados com mãos de ferro! Pra ela, subalterno não é gente, é pior que rato!
Ela parece que se diverte tratando as pessoas como criadas o ano inteiro!
Só que as pessoas não são tão bobas quanto dona Altira subestima!
E cada um, a seu modo, deseja que a megera, num momento qualquer, caia do cavalo, se estrepe, se foda irreversivelmente!
O Grupo Monvale preparou uma super confraternização de fim de ano para bajular os agregados corruptos que mamaram nas tetas da economia até então.
Vaidosa, a dona deste império; exigiu que a festa fosse abastecida com tudo o que existe de melhor, mais caro e requintado no mercado.
E sobrou para Dirce, organizar uma mega recepção no espaço gourmet e também no salão nobre da mansão.
Os caminhões descarregaram caixas e mais caixas de champanhe, iguarias, mariscos, vinhos, frutas secas, frios diversos (importados dos países nórdicos), provocando um alarido na vizinhança, tamanha a pompa e ostentação da perversa anfitriã.
Viria todo mundo pro tal coquetel: políticos, socialites, empresários, bicheiros, narcotraficantes, prostitutas, enfim, a corja toda estava caprichando nas indumentárias para não fazer feio nesse super evento.
Dirce, muito aborrecida; afinal são anos e anos de trabalhos forçados, sem nenhum tipo de regalia, abono, descanso; jurava pra si mesma, que no ano seguinte não arredaria mais uma palha sequer, em favor dos seus patrões canastrões.
Estava decidida a ir embora daquele lugar.
Na última terça feira, por telefone, Dirce confidenciou a comadre Juriti, que mora em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, que outro dia mesmo ela foi com Seu Antonio, o jardineiro, numa encruzilhada ali perto do Shopping da Gigi e arriou um ebó bem caprichado, em retaliação as maldades da patroa, no entanto, a vela virou dentro da cachaça e explodiu a galinha preta, transformando o despacho num amontoado de brasas.
Conclusão: a mulher é tão ruim, tão maquiavélica, que nem macumba pega.
Dona Altira só não contava um fator surpresa: as peripécias de Ratão e sua trupe de roedores!
Depois que o circo estava armado, quero dizer, o banquete organizado com riqueza de detalhes, Dirce deu uma conferida em tudo, fechou as despensas, apagou as luzes e foi embora, prometendo que estaria a postos na manhã seguinte.
Ratão é um velho conhecido da região por promover grandes arruaças gastronômicas. E dessa vez, veio acompanhado de Ratazana, Ratalina e mais outros 37 ratietes de fino garbo.
Adentraram pela tubulação do ar condicionado e deram início aos trabalhos.
Os ratos menores avançaram sobre a mesa de salgadinhos e degustaram prazerosamente. Era tanta guloseima que os ratos tiveram que se dividir em grupos e assim, revezaram-se para comerem os apresuntados finos, os canapés, os bolinhos de bacalhau, os enroladinhos de salmão e também os pasteizinhos de Belém.
(vindos diretos de Portugal).
Ratão comeu tanto queijo suíço, mussarela de búfala, gorgonzola e caviar russo que ficou de BARRIGUINHA CHEIA, estourando de tão roliço, parecendo uma bolota.
Pra se ter ideia, a pelagem do animal brilhava tanto de encontro com a luz, que deixou claro que a farra gastronômica havia superado, sem sombra de dúvidas, todas as expectativas em relação à rotina pobre que eles levavam chafurdados pelos esgotos e sumidouros da cidade.
Com relação aos U$$ 450 mil, em dinheiro vivo, que estavam no cofre, os ratos também detonaram com tudo! As notas ficaram roídas, esburacadas, feitas em tirinhas, completamente destruídas.
Os ratos foram atraídos até o cofre de maneira tão imediata e eficaz, porque aqueles dólares nunca haviam circulado e o cheiro das notas frescas, atrelados ao fato de estarem bem verdinhas, estalando de novas, praticamente uma colheita de dinheiro, foi mais do que suficiente para deixar os bissotes instigados a realizarem tamanha façanha.
Ratazana subiu pelas laterais da prateleira da despensa e roeu tudo o que encontrou: castanhas do Pará, nozes, tâmaras secas e, principalmente, os damascos.
Acabou esbarrando por acaso num pacote que estava na transversal e espatifou várias garrafas de champanhe.
Os ratos menores lamberam os beiços nas poças do líquido francês que escorria por todo o espaço. Fiquei imaginando a cena – vários ratos embriagados e brindando essa riqueza toda.
Os panetones mais baratos, da marca Ki Festa, certamente os que seriam ofertados aos empregados, permaneceram intactos, porém, os chocotones recheados e a Colomba natalina, das marcas Bauducco e Kopenhagen, ah esses daí, os ratos devoraram tudo!
Não sobrou um fataco sequer pra lambuja!
Fiquei impressionado com o paladar rebuscado desses bichos, sabia?
Na manhã seguinte, antes mesmo de a Dirce dar as caras, dona Altira foi conferir pessoalmente os adornos elaborados para a grande festança de fim de ano!
Deu um berro ensurdecedor e ficou apoiada numa pilastra de sustentação, relutando acreditar no que via.
Tudo estava de pernas pro ar, revirado, roído e espatifado! Foi como se a mansão tivesse sido bombardeada por terroristas iranianos, sabe?
Imediatamente, peguei a minha câmera e fui para o local. Queria fotografar a hecatombe e, posteriormente, publicar aqui.
Fui impedido no hall principal, pela própria Altira Monvale, que gritava sem parar:
" - não toque em nada, pra não se contaminar"!
Liguei pra dona Júlia ontem à noite para conversarmos sobre esse escândalo.
Eu sei que essas duas (Júlia e Altira) fingem que se gostam; se telefonam às vezes, mas na verdade, elas se detestam, e a alegria de uma é saber que aconteceu alguma miséria com a outra.
Dona Júlia me contou que quando uma pessoa tem envolvimento com máfias, contravenções, negociatas escusas e outras atividades ilícitas de elevado porte, elas acabam assumindo voluntariamente um compromisso de se tornarem figueiras do diabo e como nesse caso, trata-se de pessoas calhordas, escroques, sem nenhuma credibilidade na praça, é bem provável que tenham armado alguma falcatrua para não cumprirem o tal acordo e, consequentemente, é certo que tenha rolado algum desajuste e, por isso, devem ter arrumado rixa com o capeta.
Logo, esses ratos foram induzidos por alguma força sobrenatural, a realizarem toda aquela balburdia sem precedentes.
E por mais que quando seja conveniente, o diabo assuma uma postura elegante, galanteadora, educada, garbosa e muito fina, quando tirado do sério, numa fração de segundos, esse mesmo capiroto é capaz de transformar tudo numa boa baixaria!
Depois disso, dona Júlia pediu para que eu não a atormentasse com as minhas ligações nesse fim de ano, porque pretende se reunir com uns amigos judeus que vivem num condomínio de luxo na Barra da Tijuca e, por isso, não anda querendo saber de mais nada.
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