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A ingenuidade de dona Zuleika!!!
A vida dona Zuleika e Seu Onofre é bem sossegada!
Eles moram num Haras pomposo em Itaipava, região serrana do Rio.
São ricos, aposentados por alguma estatal, tem grana aplicada até fora do Brasil e preferiram viver numa mansão suntuosa e nababesca sob o ar gélido da serra e aquela paisagem toda, super contemplativa!
Dona Zuleika ama a primavera de Itaipava! Ver as flores tomando todos os espaços, múltiplas, de todas as cores, aquele aroma especial, sendo ativado todas as vezes que o sol das manhãs de setembro, tocava nelas, era simplesmente o sétimo céu para os delírios dessa Senhora de considerável bom gosto.
Um dos maiores chamegos de dona Zuleika é o seu neto Adriano. O rapaz é um fofo! O único neto do casal. Seus pais Antero e Regina, moram em Londres e o rapaz ficou vivendo sozinho, no Rio, numa cobertura triplex na Praia do Leblon, usufruindo um padrão de vida muito elevado, com direito a viagens internacionais pela Tailândia, Chile, Amsterdã, Paris, Nova York e Londres, quando cismava de visitar os pais.
Adriano é formado em artes cênicas pela Uni Rio, ganha a vida como produtor musical num escritório de mídia, na Gávea, mas que é imensamente badalado no circuito Rio-São Paulo, então, o rapaz se dá o conforto de viver da maneira mais boêmia e divertida possível!
Com direito a festas de fim de semana memoráveis, no apart do Rio, Adriano tem aparecido com mais frequência no Haras dos avós em Itaipava.
Comentou por alto que está envolvido num projeto ambiental, de preservação e cultivo de plantas nativas e que pretendia construir uma estufa, numa área fértil, totalmente adubada a rigor, para fazer um experimento orgânico.
Dona Zuleika ficou toda serelepe com a iniciativa do neto e concedeu o espaço que ele quisesse para tocar adiante o seu projeto. Seu Onofre franziu a testa, esboçou uma leve curiosidade a respeito do que seria cultivado e depois se manteve calado, assentindo a permissão da esposa, para que o neto pudesse se dedicar a vontade aquilo que pretendia.
Duas semanas depois, tudo pronto para que as sementes fossem enfim, depositadas no solo. Neste dia, Adriano reuniu meia dúzia de amigos e fez um churrasco no terraço da mansão da avó, comemorando o êxito do plantio.
Agora era só irrigar e acompanhar o desenvolvimento natural, tomando, é claro, todas as precauções para que nada saísse dos eixos, quero dizer, da estufa!
Três meses se passaram e o visual naquele trecho do terreno estava impressionante! A plantação seguia desenvolta, frondosa, verde, múltiplas, muito saudáveis.
A luz do sol das manhãs e dos entardeceres são essenciais para que de um dia pro outro, já se note considerável mudança no crescimento dos troncos e folhagens.
Dona Zuleika estava saltitante pela forma exuberante como a plantação incrementava a paisagem de seu valorizado terreno. Reunida com suas amigas Salete, Adelaide, Terezinha, tia Lourdes e Mirtes, uma solteirona convicta, dona Zuleika passa as tardes de terça, quinta e sábado, se deleitando com o tradicional Chá das Amigas!
Elas tomam chás variados, saboreiam guloseimas caseiras, pão de queijo mineiro e catupiry e muito bate papo. Às vezes, elas tomam vinho, ou um bom conhaque, chegando ocasionalmente, a saborearem aquele licorzinho de carambola, sensacional.
Seu Onofre sempre fica irritado com o falatório das mulheres e se tranca no escritório pra jogar palavras cruzadas!
O assunto mais comentado nas sabatinas de chás promovidas por dona Zuleika é:
o matagal do Adriano!
As jovens senhoras estavam febris com o crescimento e multiplicação dos arbustos. Atribuíam o sucesso da plantação, à dedicação total que Adriano demonstrara em adubar e irrigar cada cantinho da área necessária para que as folhagens ficassem exatamente como estão: exuberantes!
Outro dia dona Zuleika ligou pra Adelaide e contou para a amiga que tem sido, de fato, muito difícil, conseguir caminhar pelo meio da plantação. Só é possível andar no matagal da dita cuja, levando uma foice ou uma catana, que era pra se desvencilhar dos galhos mais espalhafatosos.
Seu Onofre fica tão irritado com a forma como aquele arvoredo se multiplicou, que ultimamente, sequer tem dado as caras pelo quintal. Mas há quem garanta ter visto o pacato senhor, à noite, com uma lanterna nas mãos, esmiuçando garimpos lá pelo meio das folhagens, sabia?
Mas isso é considerado um tabu, se levarmos em consideração, os princípios rígidos, pelos quais Seu Onofre fora criado!
Enfim, mistérios da meia noite!
Tia Lourdes observou que, ultimamente, basta chegar quinta feira, que rola uma confraria de rapazes bem apanhados, no terraço da mansão de dona Zuleika!
Adriano aterrissa por lá com uma trupe de amigos. Vai sempre o Gabriel, o Felipe, o Léo, o Will, o Lucas, Bernardo e também o Edu.
E segundo se sabe, nesses dias, dona Zuleika e Seu Onofre, pouco dormem!
A rapaziada compra carvão, cerveja, vodka e frutas vermelhas, bastante picanha, drumet’s de frango, linguicinha de pernil e armam um baita churrasco!
A animação intermedia entre o silêncio absoluto, como se todos estivessem entocados no loft, e posteriormente, uma risadaria e um alarido constante, com direito a partidas de sinuca, zoação, rodadas de bebida, e claro; um mergulho na imensa piscina que ostenta naquele terraço.
É muita churrascada. O cheiro de picanha sendo queimada na churrasqueira empesteia o ar, provocando fomes incontroláveis pelos arredores!
Enquanto isso, os rapazes se refestelam do bom e do melhor, saboreiam drink’s incríveis e não ficam meia hora sequer sem reabastecer os seus copos de cerveja!
É muita fartura naquele lugar!
Dá-se o caso, que segundo a contabilidade arcaica de Seu Onofre, são queimados por cada final de semana, pelo menos uns dez quilos de picanha e mais outros cinco dos complementos (frango e lingüiça de pernil).
Dona Abigail, a vizinha antipática de dona Zuleika, não tem tirado a cara da janela, fiscalizando de camarote, o entra e sai naquele terraço, os festejos pela madrugada, as entradas furtivas dos rapazes pelo meio da plantação.
Curiosa, se soube que ela andou especulando pela vizinhança que a mansão de dona Zuleika, havia se transformando numa extensão de algum quartel, porque os rapazes que frequentavam o ambiente; eram de grande porte físico, o que provavelmente, deve ter deixado a velha intrigueira com um fogo suspeito por debaixo!
Adriano deveria ter tomado mais cautela, pelo fato, de ter uma mulher amargurada feito Abigail, como vizinha, né não?
A velha deixou escapar que observou a plenas quatro horas da tarde, Adriano, Felipe, Will e Léo, dentro do matagal, com um vasilhame nas mãos, garimpando alguma coisa com muita dedicação e concentração na parte seletiva daquilo que serviria primeiro.
Dona Abigail, durante algum tempo, frequentou assiduamente à mansão de dona Zuleika. Eram bastante amigas, até o dia em surgiu um boato nos bastidores, que dona Zuleika na verdade era bilionária e não apenas, milionária, como diziam.
E que inclusive, a fortuna já ultrapassara os R$ 3 bilhões.
Dona Zuleika ficou super furiosa, na época, e tratou de tomar satisfações com Abigail.
As duas discutiram tão feio que Zuleika quase esfregou o extrato bancário que havia retirado no HSBC Premiére, no meio da cara de Abigail. Dali por diante, houve uma ruptura na relação entre as senhoras, afastando as a ponto de nem se cumprimentarem na maioria das vezes em que se esbarravam pela cidade.
Há quem garanta que Abigail tomou uma rixa tremenda por Zuleika! Parece que só aguarda o momento certo para dar uma rasteira bem passada na vizinha endinheirada!
Cascavel, essa Abigail!
Dias atrás, dona Zuleika resolveu inovar a sua tarde de chás!
Foi até o matagal, usou a catana para abrir caminho, colheu várias folhas bem felpudas daquela exuberante planta, alguns cachos com sementes, tão fartas, parecendo um desabrochar de orquídeas e preparou um caldeirão de chá.
A bebida seria servida com os tradicionais pãezinhos de queijo e bolo de laranja bem fresquinhos.
O aroma que as ervas exalavam enquanto ferviam, era no mínimo, intenso à beça!
Terezinha e Mirtes ficaram curiosas com a bebida e disseram afoitas:
“- quero experimentar um golinho”!
Mirtes, no entanto, estava ressabiada! Tinha medo de o chá ser afrodisíaco e atacar a sua libido, o que seria uma tragédia, uma vez que se tratava duma solteirona convicta e inveterada.
E as senhoras se reuniram! Tia Lourdes caprichou em sua xícara! Dona Salete reclamou do gosto amargo! Terezinha adorou, já estava sorvendo a segunda rodada! Adelaide e dona Zuleika saboreavam o chá com entusiasmo.
Mirtes acabou bebendo tudo num gole só!
Todas acabaram não resistindo e bebendo mais uma xícara!
Batiam papo descontraídas, quando; de repente, Terezinha começou a rir!
Tia Lourdes não se conteve, começou a gargalhar feito uma hiena.
Dona Zuleika reclamou da demora pros pãezinhos atingirem o ponto de degustação. Mirtes estava inquieta, reclamando do calor, querendo, inclusive, ficar apenas de calcinha e sutiã no meio da sala.
Cada vez mais esfamaiada, dona Zuleika não resistiu e atacou duas lascas de pernil que acabara de sair do forno! Não resistiu aos restos de rabada com agrião e quando deu por si, comia mortadela com pão integral como se fosse uma adolescente!
Salete tentava fazer uma flanelinha com técnicas de Ponto e Cruz, mas a todo instante, deixava a agulha cair e começava novamente outra sessão de incontroláveis gargalhadas!
Elas já conseguiam admitir: 'algum componente naquele chá era forte o bastante para deixa-las com múltiplas personalidades'.
Quitando a comilança, dona Zuleika fez questão de registrar recordes: depois da sessão mortadela, vieram os doces: duas tigelas de sorvetes de flocos com passas ao rum, outra tigela farta de açaí com granola, banana e calda de mel; quatro picolés ‘Magnum da Kibon’; meia dúzia de quindins, uma fatia de cuscus de tapioca com côco, recheada com leite condensado e mergulhada no côco ralado e pra arrematar aquilo tudo – uma fatia de mamão papaia!
Mirtes estava numa ducha gelada à meia hora.
Nem assim, sentia que o seu facho diminuía.
Salete e Terezinha jogavam carteado na sala.
Dona Zuleika estava simplesmente desorientada pelo meio da casa.
Não dizia coisa com coisa, rodopiava, se esquecia das letras no meio das músicas, enfim, estava completamente confusa, tresloucada e chique, a bela senhora de fino garbo de Itaipava.
Seu Onofre estava de ovo virado por causa do chá das Senhoras!
E Abigail concluiu que chegou o momento de se vingar.
A felicidade de dona Zuleika e aquelas amigas dela; estava indo longe demais!
Ligou pra polícia e disse:
"- Oi, aqui é Abigail, quero fazer uma denúncia!
A milionária Zuleika Munhoz cultiva maconha em seu Haras em Itaipava.
Gostaria que a minha ligação ficasse em sigilo, delegado Xavier, obrigada"!
Semana passada, nem bem o sol se punha, e as senhoras estavam saboreando mais uma rodada daquele chá fabuloso, quando o Sargento da PM, Baltazar de Almeida, empurrou o pé na porta principal da mansão de Zuleika!
Aos berros sentenciava:
“ – a casa caiu, malandragem”!
Dona Zuleika estava selecionando algumas coisas pra comer, quando teve a casa invadida. Não conseguia completar as frases, gritava, andava de um lado pro outro, pedia água, tossia, e dizia o tempo todo:
“ – isso não pode ser verdade”!
Dona Zuleika estava aos prantos. Não escondia a tristeza e profunda decepção pela conduta do neto Adriano. Chorava copiosamente e jurava por todos os santos e Orixás, que não sabia que a plantação vistosa e verdejante cultivada em seu haras com todo afinco e dedicação, na verdade, não passava dum roçado de maconha.
O Sargento da PM, Baltazar de Almeida, foi categórico em sua acusação:
“ – a senhora, dona Zuleika, não passa de uma VELHA SAFADA, isso sim, passou esse tempo todo acobertando e usufruindo das atividades ilícitas praticadas pelo seu neto maloqueiro e criminoso e agora, que eu disse que a casa caiu, a senhora vem com essa desculpa esfarrapada de que não estava sabendo de nada”?
O tempo fechou totalmente!
Seu Onofre ficou furioso com a forma com que o policial interpelou a sua senhora. Não hesitou um segundo; ergueu o dedo indicador na cara do Sargento e o chamou de moleque!
A confusão foi imediata!
Baltazar queria levar Seu Onofre preso por desacato à autoridade e associação ao tráfico de entorpecentes, porém, o próprio Onofre se manifestou favorável a procurar o delegado Xavier, velho amigo e resolveu essa pendenga de uma vez por todas!
O delegado Xavier recebeu dona Zuleika e Seu Onofre em seu escritório.
Dona Zuleika estava alucinada. Compadres, ele e Seu Onofre começaram a pontuar as arestas da situação.
O delegado tinha certeza da inocência de Zuleika. Sabia que sendo ela, uma refinada mulher, sequer tinha consciência sobre as dualidades intransponíveis do submundo.
Quanto a Seu Onofre, foi um pouco mais atribulada a conversa.
Ele sabia do que se tratava. Sabia que o neto Adriano não estava bem intencionado, e, no entanto, preferiu ficar calado, dando uma de sonso, só pra ir se fartar durante a noite, de todas aquelas benesses colhidas ali ao bel prazer!
O delegado Xavier arquivou o inquérito em consideração ao meio século de amizade. Mas indiciou Adriano Munhoz por associação ao tráfico e também por formação de quadrilha!
Liberados, Seu Onofre e dona Zuleika, voltavam pro haras de carro.
Passaram em frente à chácara de Abigail e ela estava na janela. Dona Zuleika pediu que Onofre parasse o carro.
Desceu e disse em bom som:
"- sua cadela velha, um dia você há de me pagar muito caro"!
Abigail respondeu: "- a justiça foi feita, MINHA QUERIDA"!
Indignada, dona Zuleika andava pela sala de estar, lembrando a alegria que Abigail sentiu contemplando o seu sofrimento.
Trêmula, foi até ao bar room e se serviu de wisky.
Depois, disse entre os dentes:
“ – Abigail, sua filha da puta!
Viverei pelo dia em que te deixarei moída de tanta porrada”!
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