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Belinha - mais que uma amiga, uma bissota serelepe!
A crônica dessa semana, é uma homenagem mais do que justa, trata-se duma narrativa excepcional sobre a amizade entre uma família a sua cadelinha de estimação.
Belinha não foi apenas mais uma bichinha serelepe, dessas que latem e abanam o rabinho mecanicamente; ela foi um pilar de sustentação importante, que ao longo dos últimos dez anos, renderam experiências sublimes aos integrantes da família Barreto!
Belinha Barreto dedicou sua vida in-tei-ri-nha em ser feliz e fazer infinitamente feliz a vida de todos que a cercavam. Peraí, quase todos, mas isso cada um que estiver lendo essa narrativa, tirará as suas próprias conclusões. Certo? Certinho!
Tive pouco contato com Belinha, no entanto, dessa pouca convivência, usufruí de estórias impressionantes aprontadas com afinco, travessura, afeto e aqueles passinhos curtos de cachorro, estalados bem mansinho, (thic, thic, thic) no contrapiso da sala de estar.
Todo mundo vive repetindo que quando vamos a um pet shop ou manifestamos interesse em adotar um bissote, escolhemos a companhia daquele que nos encara com olhos adocicados. No caso dos Barretos, foram eles os escolhidos por Belinha.
Ela poderia ter vivido esses dez anos na companhia de quem ela bem entendesse, afinal de contas, tratava-se duma cadelinha com personalidade fortíssima, no entanto, os agraciados foram: Seu Castro, Jandira, Danielle e Thay.
Belinha se apaixonou por eles a primeira vista e fez desse seio familiar, o seu refúgio, sua morada, estadia feliz que permitiu a todo mundo que teve contato, uma história de amor capaz de desbancar muitos contos de fada.
Não me sai da cabeça uma coisa – a cinderela Belinha sempre soube valorizar cada carinho, cada filé que comeu e, principalmente, o aconchego da almofada na qual suas sonecas eram embaladas.
Todas as vezes que chegava alguém de fora em casa, enquanto a família seguia o protocolo de recepcionar os convivas com sorrisos, abraços e os beijinhos, Belinha apenas latia, primeiramente, manifestando o seu desconforto por estar sendo incomodada por ilustres intrusos. Latia e ficava escondida debaixo da mesa da sala principal.
Volto e meia, ela botava o focinho pro lado de fora e rosnava aborrecida. E não adiantava ficar tentando engabelá-la com aquele nhem nhem nhem costumeiro de agradar cachorro.
Belinha nunca se rendeu a tentativas forçadas de aproximação, ela priorizava a espontaneidade das pessoas. Precisava daquele tempo, enfiada por trás cortinas, pra observar se a visita em si, merecia ou não, que ela desfilasse a sua beleza pelo meio da casa. E isso levava um certo tempo, é claro!
Se a visita fosse chata e tivesse criança junto, pronto!
Belinha ficava o tempo todo entocada! Só se rendia horas mais tarde! E acompanhava a criança! Mas mantinha uma distância respeitosa. Se a criança se atrevesse a puxa-la pelo rabo, pronto; decretava-se ali, a ruptura de qualquer possibilidade de amizade mais duradoura. Ela se metia atrás do sofá e só saia de lá pra latir o seu descontentamento pelos infortúnios causados pela visita.
dona Jandira sempre enfatizava:
“- Belinha é mansa, é dócil, não precisa ter medo”!
Mas se esquecia de dizer:
“ – Belinha é fina, é discreta a seu modo, não gosta de ser abordada enquanto usufrui de suas pequenas mordomias diárias”!
Belinha ficava na cozinha assistindo dona Jandira preparar as guloseimas todas! Uma companhia fiel, alegre, encantadora mesmo! Enquanto todos partiam pros seus afazeres, a bichana dedicava suas horas a ouvir as lamúrias e queixas da matriarca dos Barretos. E não era coisinha pouca! Mas se tinha uma coisa que Belinha sabia aproveitar bem, era o seu tempo.
Não abria mão, em hipótese alguma, dos passeios matinais DELA, pelo quintal.
Era como se vistoriasse todas as manhãs, cada cantinho da casa, certificando-se de que nenhum rato desavisado se abancara pelo recinto. Depois, saciava sua fome beliscando seu cardápio canino bastante suculento e saboroso!
E quando dona Jandira estava irritada com algum entrever doméstico, primeiro ela latia seus argumentos apaziguadores, mas como Jandira é teimosa, ela acabava deixando a poeira baixar enquanto se refestelava estirada numa almofada rosa que ficava próxima à janela.
O que Belinha tinha ojeriza mesmo era de cobra! Assim, todas as vezes que uma delas tocava a campainha, a bissota ficava realmente irritadiça! E não hesitava em latir bem alto a cada cinco minutos, tentando muitas vezes em vão, dispersar essas visitas ofidicamente perturbadoras.
O mais interessante é que nem Seu Castro, nem dona Jandira são adeptos de jogatina de bicho, porém, as cobras sempre davam um jeito de adentrar no recinto e ficavam horas a fio discorrendo suas intrigas, lamentações e aqueles pitacos indesejáveis que a pessoa nunca pede, mas que sempre tem algum infeliz disposto a dar.
Belinha não tinha a capacidade de compreender a lógica cotidiana dos humanos, porém, absorvia como poucos; o que cada ser em si trazia consigo desde a hora em que batia na porta até o minuto em que partia em retirada do ambiente.
Com a Dani Barreto, a relação de Belinha era a melhor possível! Nos últimos seis anos, Dani percorreu o país, morando ocasionalmente em cidades incríveis, só que as visitas à casa matriz são mais sagradas do que os dias santos do calendário. Dia das Mães, dos Pais, aniversários, páscoa, ação de graças, natal e afins, as duas se reencontravam em reuniões familiares super divertidas.
À Belinha, sempre coube a maior festança! Bastava Dani botar a cara no portão e começava um grande baile de latidos, alaridos miúdos, lambidas, farejadas e uma correria eufórica pelos espaços. Belinha era tão serelepe que chegava muitas vezes, a dar nó em pingo d’água.
Uma amizade assim, como a de Dani e Belinha Barreto, nada é capaz de liquidar, nem mesmo a morte!
Durante os dez anos em que Belinha esteve parte dessa família, pude testemunhar relatos extraordinários, onde a alegria era a sensação mais comum e reinante!
Comigo, Belinha aprontou bem menos, porém, o suficiente para que eu jamais me esqueça dela, de como a sua presença naquela casa era sensacional.
Teve um dia, que apareci no clã dos Barretos prum almoço de confraternização, sabe? E fui recebido, é claro, por Belinha! Antes mesmo de trocar três beijinhos com dona Jandira (a dona da casa), Belinha circulava pelos arredores latindo bem alto.
A cada tentativa minha de aproximação, ela se metia debaixo da mesa e ficava rosnando a sua curiosidade em saber mais a respeito de quem eu era. E fui bastante implicante com ela. De meia em meia hora, eu ficava provocando contato e ouvia como resposta um coro de latidos uníssono e bastante estridente.
Num dado momento; sentei na varanda e fiquei bebendo a minha garrafa de vinho. Belinha disfarçava e farejava minha presença. Vez ou outra; latia mais alto, até que nos cansamos daquele jogo e nos atiramos aos carinhos um do outro.
Mesmo arredia; Belinha se aproximou de mim e assim, juntinhos; latia eu de um lado e ela do outro. Foi assim até a hora d’eu ir embora.
À cerca de vinte dias, Belinha foi acometida por uma doença rara, devastadora, provocando apreensão, pânico e expectativas em todos os membros da família Barreto.
Foram administrados todos os medicamentos prescritos pelo veterinário e nada. Belinha só piorava!
A agonia do animalzinho transformou o clima de euforia da família num drama descomunal.
Belinha chegou a ser hospitalizada! Todos os recursos possíveis foram utilizados na tentativa de que ela se restabelecesse, no entanto, neste fim de semana, a bissota não resistiu aos avanços da enfermidade e sucumbiu!
Belinha morreu e deixou a família Barreto desolada!
Belinha não quis esperar pelo fim do mundo! Resolveu ir embora antes! E por mais dolorosa que seja essa partida (e foi), acredito que a vida dessa bichinha serviu para que absorvêssemos o que de mais sublime existe numa relação de amor em família!
Belinha complementou de maneira especial a vida de cada um dos seus donos! E cultivou nesses dez anos de convivência um amor incondicional, desses que engendram em nós, a certeza de que nada nessa vida é força do mero acaso.
Se houver mesmo uma hecatombe apocalíptica nos próximos dias, tenho certeza de que quando tocarem as trombetas do ALÉM e os portais do SANA se abrirem; é pra lá que irei!
E serei recebido pela criaturinha mais doce, formidável, serelepe e encantadora que é essa cadelinha estimada por todos que conviveram sua existência: Belinha!
É realmente nisso que eu prefiro acreditar!
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