sábado, 13 de abril de 2013

Sofia avança farol vermelho e bate no carro de Rodrigo!


Pra quem vive em grandes metrópoles como São Paulo ou Rio de Janeiro, o trânsito caótico deixou de ser novidade, faz tempo. 
Os motoristas ficam presos em engarrafamentos intermináveis por horas a fio e, com isso, o tráfego intenso estressa todo mundo.

Mas aqui em Araruama, olha; a gente só sabia o quê era engarrafamento quando assistia pela Tv. Nunca teve disso por aqui, a não ser, é claro, em temporadas de fim de ano, carnaval e semana santa, certo?

Pois é, ou melhor, era!

Se você parar e observar, vai se dar conta, de que basta pôr os pés fora de casa, dar uma circulada pelas ruas do centro e pronto. Vai ter problemas para encontrar vaga (estacionamento) e trafegará no ritmo da preguiça.

Dona Júlia Cavalcanti, protagonista do romance que estou escrevendo, me disse por telefone, que se morasse por aqui, deixaria os carros de lado e usaria uma carruagem imperial.

Segundo ela, os cavalos são bem mais fáceis de ser conduzidos, e no horário de pico, mais velozes do qualquer carro de passeio.
Ah, fora que não precisaria pagar pelo estacionamento!
Serviria apenas água mineral pros bissotes, a cada hora, e tudo estaria resolvido.

Eu dei risada e fiquei imaginando a cena (uma senhora de fino trato, sendo conduzida por seu cocheiro uniformizado com fraque ou casaca, tocando os cavalos pela Avenida Nilo Peçanha).

Já Luíza Sampaio, depois da quinta dose de whisky; me disse que o problema em relação ao aumento da frota em todas as cidades, se deu por conta da redução do IPI.

Mal humorada, ela completou:

“ - agora todo mundo desfila de carro e sai barbarizando por tudo o que é canto”!

Em se tratando de Sofia, retomo o fio da meada!
É sobre ela; os seus anseios e, principalmente, sobre a sua rotina atribulada que esta narrativa se desenvolve.
Sendo assim, se você, caro leitor, estava com a testa franzida pela irritação e também pela curiosidade, respire fundo!

Eu vou contar de maneira bastante clara o ocorrido. (o quase desastre dessa Sofia, não criada por Clarice Lispector, mas bastante interessante).

Sofia tem uma rotina bastante complicada. Mora em Araruama, no bairro da Pontinha, trabalha num banco em Saquarema e à noite faz um curso de especialização em Cabo Frio.
Vive numa corrida alucinante contra o relógio.

Reclama o tempo todo que não tem tempo pra nada, que é uma odisseia conseguir um encaixe no cabeleireiro, no acupunturista, dentista e outra centena de afazeres indispensáveis.

Outro dia, assoberbada de trabalho, deu um escândalo com o dono da clínica veterinária porque ele se esqueceu de buscar o seu cãozinho Dolly, para a tosa mensal.
A situação foi tão tensa, que Sofia parecia cega mediante os próprios olhos, só conseguia gritar, gesticular e ameaçava a cada cinco minutos, quebrar a clínica do Dr. Otávio.

Quer dizer, com um turbilhão de coisas pra fazer, Sofia acaba extravasando sua tensão na estrada, enquanto dirige, (sempre em alta velocidade).
E ignora terminantemente às recomendações por cautela, vindas dos seus pais e também dos amigos. Sempre argumenta:

“ – a vida é agora, meu amor! E pede pressa! Tenho que correr contra o tempo, afinal de contas, tempo é dinheiro e; se tem uma coisa que eu gosto muito é de dinheiro”!

Em se tratando do Rodrigo, a vida desse cara percorre um caminho bem mais tranquilo! Ele tem vinte e oito anos, é formado em publicidade, porém não exerce.
Vive de brisa! Mas é totalmente do bem!
Tem gestos comedidos, e quando proseia, imprime certa malemolência no tom de voz, sabe?

Suas grandes paixões são: as mulheres bonitas, os cavalos de raça da fazenda de seus pais e, óbvio, o gosto por caminhonetes importadas e personalizadas a contento.

Não é aquele tipo de cara que frequenta academia, porém, faz questão de manter a boa forma se alimentando de maneira equilibrada, praticando natação e kite Surf.


Certamente, Rodrigo e Sofia já devem ter cruzado um pelo outro na orla da Lagoa de Araruama. (ele pratica Kite ali pelos arredores do Clube Náutico).
E, claro; não se perceberam mediante o frenesi que a vida os impunha.
Mas o destino lhes pregaria uma peça e tanto, podem acreditar!

Quarta feira retrasada, quatro da tarde, Sofia estava de folga e voltava de Praia Seca. Como de costume, pisava fundo no acelerador, estabelecendo uma corrida frenética contra o próprio tempo. Ouvia musica, fumava e, às vezes, falava ao celular. Isso tudo, a pelo menos (140 Km).

Resolveu entrar na cidade, precisava trocar umas peças de roupas recém-compradas no shopping.

Estava afoita e meia hora depois, trafegava pela Av. Getúlio Vargas, buzinando e desviando dos outros carros como se fosse uma piloto de fuga!
Naquela reta que compreende a esquina da joalheria até a rodoviária, Sofia acelerou.
Não havia empecilhos diante o percurso.

O airbag sofisticado do carro importado de ultima geração (Hynday Veloster); foi relevante à sobrevivência de Sofia. Com um ferimento aberto no supercílio esquerdo, ela gemia de dor enquanto aguardava a chegada do SAMU, porém, mesmo ensanguentada, se mantinha aos gritos, insistindo em culpar Rodrigo, por ser o causador daquela batida tão estúpida, quando na verdade, a culpa tinha sido inteiramente sua.

As testemunhas garantiram aos policiais que Sofia realmente dirigia em alta velocidade, enquanto gritava ao celular, ignorando por completo o farol vermelho, quando atingiu em cheio, a caminhonete do Rodrigo, bem na porta do motorista, provocando um estrondo violento, espatifando vidros e outros estilhaços por todos os lugares, causando pânico e gritaria aos que transitavam pelos arredores.

A perícia técnica foi contundente. Rodrigo rodeava a rodoviária, o farol eletrônico estava verde e ele seguia sossegado, conduzindo a sua caminhonete, quando exatamente ali, no cruzamento entre a farmácia e a pastelaria chinesa, houve o choque.

Não deu tempo pra sequer, pensar em recuar.

As donas de casa que aguardavam seus ônibus; ficaram tão atordoadas pelo impacto da colisão, que enlouquecidas, abandonaram os seus pertences e puseram os dentes pra fora, gritando por socorro imediato!

Rodrigo, apesar de aborrecido pelos estragos provocados a sua caminhonete, estava são e salvo, sem um arranhão sequer, se mantinha calmo e, a todo instante, tentava negociar com Sofia!

Alertou aos policiais que não pretendia processa-la.

Mas nada disso foi suficiente para que a loira ensandecida se aquietasse.
Ela se mantinha furiosa, gritando, xingando Rodrigo de todas as maneiras:

“ – você é um playboyzinho safado, isso sim! Olha o que você fez no meu rosto!
Serei uma mulher feia, a partir de agora! Não quero saber de mais nada, você vai ter que pagar por isso, inclusive, pela cirurgia plástica”!

Rodrigo afirmou que tudo ficaria bem, a seguradora se encarregaria de todos os custos, e que ele não iria deixar de prestar assistência, ainda que a responsável por aquela mini desgraça fosse ela, somente ela.

E galante, completou: “ – você é uma mulher linda, isso foi um machucadinho à toa, vai sarar, você vai ver”!

Uma senhora rabugenta que assistia a tudo, comentou com a outra:

“ – o cara tá pouco se lixando pra porra do prejuízo que teve, ele tá cheio de segundas intenções com a loirinha peituda, olha só, minha querida”!

E realmente estava.
Até os policiais perceberam que Rodrigo se esforçava em agradar Sofia.
Era como se, de repente, o acidente não tivesse a menor importância e que a partir dali, algo muito grandioso e formidável estivesse prestes a acontecer.

A ambulância chegou uma hora depois.
Sofia foi levada para um hospital particular, sob-recomendações do próprio Rodrigo.
E se mantinha furiosa: “ – essa sua preocupação toda comigo, é uma maneira disfarçada de assumir a própria culpa, seu malandro”!

Sofia levou cinco pontos no supercílio e foi submetida a uma série de exames! Felizmente, não aconteceu nada grave. Ela estava em perfeitas condições de saúde. Teria alta clínica logo em seguida!

Na verdade, o que Sofia queria, de fato, era se safar; bancar a coitadinha; sabe? Tanto que a primeira coisa que disse para a mãe, ainda no hospital foi:

“ – Mãe, eu fiz uma merda astronômica”!

Ouviu-se três batidinhas na porta!
Rodrigo adentrou com um ramalhete de girassóis entre os braços e disse:

“- esses girassóis são pra você, dourados feito o sol, brilhantes feito os seus fios de cabelo”!

Sofia não se fez de rogada:

“ – pra você é muito fácil, né?
Me traz uma braçada de flores e acha que vou adocicar pro seu lado, é”?

Aborrecido, ele respondeu: “ – só quis ser gentil, mas se você não consegue ao menos ter educação, então, vá...”!

Antes que o palavrão saísse, foi interrompido:
“ – como ficou sabendo que essas são as minhas flores favoritas, hein”?

Rodrigo deu um sorriso e saiu sem dizer uma palavra.

Alguns dias se passaram e nada desses dois se acertarem!
Tiveram vários outros encontros e a cada vez, acontecia uma nova troca de farpas, iniciada, é claro, por Sofia.

Dona Juraci, sua mãe, estava pensando seriamente em encaminha-la a um psiquiatra, mas Sofia, na verdade se divertia com aquele joguinho descabido e sem qualquer senso coerente.

A seguradora enviou outro carro para a bancária, da mesma marca, estalando de tão novo, e nem assim, ela parecia contente.

Durante um telefonema ao Rodrigo, atacou:
“ – você é um sonso, um cretino musculoso metido a esportista, isso sim”!

Ele simplesmente desapareceu. Não tentou nenhum contato!

Na semana seguinte, depois de refletir, acredita-se, Sofia ligou para Rodrigo e sugeriu que se encontrassem, pois precisava se redimir.

O encontro foi anteontem, num restaurante sofisticado na Rua das Pedras, Búzios, litoral norte do Rio de Janeiro.

Sofia estava radiante, sorrindo, dentro dum vestido preto de tule, forrado por um tecido acetinado.

Rodrigo a cumprimentou com um abraço e os típicos dois beijinhos.
E disse subitamente:

“ – Sofia, tudo o que eu mais quero nesse momento é ficar bem com você!
Já pensou no quanto a gente pode aproveitar a companhia um do outro”?

Sofia fitou-o fixamente por alguns segundos, depois esfregou uma palma da mão na outra, abriu um sorriso de canto de boca e disse numa só frase:

“ – eu quero mesmo é transar contigo na cabine da sua caminhonete”!
Sofia avança farol vermelho e bate no carro de Rodrigo!

Pra quem vive em grandes metrópoles como São Paulo ou Rio de Janeiro, o trânsito caótico deixou de ser novidade, faz tempo.  
Os motoristas ficam presos em engarrafamentos intermináveis por horas a fio e, com isso, o tráfego intenso estressa todo mundo. 

Mas aqui em Araruama, olha; a gente só sabia o quê era engarrafamento quando assistia pela Tv. Nunca teve disso por aqui, a não ser, é claro, em temporadas de fim de ano, carnaval e semana santa, certo? 

Pois é, ou melhor, era!
 
Se você parar e observar, vai se dar conta, de que basta pôr os pés fora de casa, dar uma circulada pelas ruas do centro e pronto. Vai ter problemas para encontrar vaga (estacionamento) e trafegará no ritmo da preguiça.
 
Dona Júlia Cavalcanti, protagonista do romance que estou escrevendo, me disse por telefone, que se morasse por aqui, deixaria os carros de lado e usaria uma carruagem imperial. 
 
Segundo ela, os cavalos são bem mais fáceis de ser conduzidos, e no horário de pico, mais velozes do qualquer carro de passeio. 
Ah, fora que não precisaria pagar pelo estacionamento! 
Serviria apenas água mineral pros bissotes, a cada hora, e tudo estaria resolvido.
 
Eu dei risada e fiquei imaginando a cena (uma senhora de fino trato, sendo conduzida por seu cocheiro uniformizado com fraque ou casaca, tocando os cavalos pela Avenida Nilo Peçanha).

Já Luíza Sampaio, depois da quinta dose de whisky; me disse que o problema em relação ao aumento da frota em todas as cidades, se deu por conta da redução do IPI.
 
Mal humorada, ela completou: 

“ - agora todo mundo desfila de carro e sai barbarizando por tudo o que é canto”!

Em se tratando de Sofia, retomo o fio da meada! 
É sobre ela; os seus anseios e, principalmente, sobre a sua rotina atribulada que esta narrativa se desenvolve. 
Sendo assim, se você, caro leitor, estava com a testa franzida pela irritação e também pela curiosidade, respire fundo! 

Eu vou contar de maneira bastante clara o ocorrido. (o quase desastre dessa Sofia, não criada por Clarice Lispector, mas bastante interessante).

Sofia tem uma rotina bastante complicada. Mora em Araruama, no bairro da Pontinha, trabalha num banco em Saquarema e à noite faz um curso de especialização em Cabo Frio. 
Vive numa corrida alucinante contra o relógio. 

Reclama o tempo todo que não tem tempo pra nada, que é uma odisseia conseguir um encaixe no cabeleireiro, no acupunturista, dentista e outra centena de afazeres indispensáveis.  

Outro dia, assoberbada de trabalho, deu um escândalo com o dono da clínica veterinária porque ele se esqueceu de buscar o seu cãozinho Dolly, para a tosa mensal. 
A situação foi tão tensa, que Sofia parecia cega mediante os próprios olhos, só conseguia gritar, gesticular e ameaçava a cada cinco minutos, quebrar a clínica do Dr. Otávio.

Quer dizer, com um turbilhão de coisas pra fazer, Sofia acaba extravasando sua tensão na estrada, enquanto dirige, (sempre em alta velocidade). 
E ignora terminantemente às recomendações por cautela, vindas dos seus pais e também dos amigos.  Sempre argumenta:

“ – a vida é agora, meu amor! E pede pressa! Tenho que correr contra o tempo, afinal de contas, tempo é dinheiro e; se tem uma coisa que eu gosto muito é de dinheiro”!

Em se tratando do Rodrigo, a vida desse cara percorre um caminho bem mais tranquilo! Ele tem vinte e oito anos, é formado em publicidade, porém não exerce.
Vive de brisa! Mas é totalmente do bem! 
Tem gestos comedidos, e quando proseia, imprime certa malemolência no tom de voz, sabe? 

Suas grandes paixões são: as mulheres bonitas, os cavalos de raça da fazenda de seus pais e, óbvio, o gosto por caminhonetes importadas e personalizadas a contento.

Não é aquele tipo de cara que frequenta academia, porém, faz questão de manter a boa forma se alimentando de maneira equilibrada, praticando natação e kite Surf.

 
Certamente, Rodrigo e Sofia já devem ter cruzado um pelo outro na orla da Lagoa de Araruama. (ele pratica Kite ali pelos arredores do Clube Náutico).
E, claro; não se perceberam mediante o frenesi que a vida os impunha. 
Mas o destino lhes pregaria uma peça e tanto, podem acreditar!

Quarta feira retrasada, quatro da tarde, Sofia estava de folga e voltava de Praia Seca. Como de costume, pisava fundo no acelerador, estabelecendo uma corrida frenética contra o próprio tempo. Ouvia musica, fumava e, às vezes, falava ao celular. Isso tudo, a pelo menos (140 Km). 

Resolveu entrar na cidade, precisava trocar umas peças de roupas recém-compradas no shopping.
 
Estava afoita e meia hora depois, trafegava pela Av. Getúlio Vargas, buzinando e desviando dos outros carros como se fosse uma piloto de fuga! 
Naquela reta que compreende a esquina da joalheria até a rodoviária, Sofia acelerou. 
Não havia empecilhos diante o percurso.
 
O airbag sofisticado do carro importado de ultima geração (Hynday Veloster); foi relevante à sobrevivência de Sofia. Com um ferimento aberto no supercílio esquerdo, ela gemia de dor enquanto aguardava a chegada do SAMU, porém, mesmo ensanguentada, se mantinha aos gritos, insistindo em culpar Rodrigo, por ser o causador daquela batida tão estúpida, quando na verdade, a culpa tinha sido inteiramente sua.
 
As testemunhas garantiram aos policiais que Sofia realmente dirigia em alta velocidade, enquanto gritava ao celular, ignorando por completo o farol vermelho, quando atingiu em cheio, a caminhonete do Rodrigo, bem na porta do motorista, provocando um estrondo violento, espatifando vidros e outros estilhaços por todos os lugares, causando pânico e gritaria aos que transitavam pelos arredores.

A perícia técnica foi contundente. Rodrigo rodeava a rodoviária, o farol eletrônico estava verde e ele seguia sossegado, conduzindo a sua caminhonete, quando exatamente ali, no cruzamento entre a farmácia e a pastelaria chinesa, houve o choque. 

Não deu tempo pra sequer, pensar em recuar.
 
As donas de casa que aguardavam seus ônibus; ficaram tão atordoadas pelo impacto da colisão, que enlouquecidas, abandonaram os seus pertences e puseram os dentes pra fora, gritando por socorro imediato!

Rodrigo, apesar de aborrecido pelos estragos provocados a sua caminhonete, estava são e salvo, sem um arranhão sequer, se mantinha calmo e, a todo instante, tentava negociar com Sofia! 

Alertou aos policiais que não pretendia processa-la.

Mas nada disso foi suficiente para que a loira ensandecida se aquietasse. 
Ela se mantinha furiosa, gritando, xingando Rodrigo de todas as maneiras: 

“ – você é um playboyzinho safado, isso sim! Olha o que você fez no meu rosto! 
Serei uma mulher feia, a partir de agora! Não quero saber de mais nada, você vai ter que pagar por isso, inclusive, pela cirurgia plástica”!

Rodrigo afirmou que tudo ficaria bem, a seguradora se encarregaria de todos os custos, e que ele não iria deixar de prestar assistência, ainda que a responsável por aquela mini desgraça fosse ela, somente ela. 

E galante, completou: “ – você é uma mulher linda, isso foi um machucadinho à toa, vai sarar, você vai ver”!

Uma senhora rabugenta que assistia a tudo, comentou com a outra: 

“ – o cara tá pouco se lixando pra porra do prejuízo que teve, ele tá cheio de segundas intenções com a loirinha peituda, olha só, minha querida”!

E realmente estava. 
Até os policiais perceberam que Rodrigo se esforçava em agradar Sofia. 
Era como se, de repente, o acidente não tivesse a menor importância e que a partir dali, algo muito grandioso e formidável estivesse prestes a acontecer.

A ambulância chegou uma hora depois. 
Sofia foi levada para um hospital particular, sob-recomendações do próprio Rodrigo. 
E se mantinha furiosa: “ – essa sua preocupação toda comigo, é uma maneira disfarçada de assumir a própria culpa, seu malandro”!

Sofia levou cinco pontos no supercílio e foi submetida a uma série de exames! Felizmente, não aconteceu nada grave. Ela estava em perfeitas condições de saúde. Teria alta clínica logo em seguida!

Na verdade, o que Sofia queria, de fato, era se safar; bancar a coitadinha; sabe? Tanto que a primeira coisa que disse para a mãe, ainda no hospital foi:
 
“ – Mãe, eu fiz uma merda astronômica”! 

Ouviu-se três batidinhas na porta! 
Rodrigo adentrou com um ramalhete de girassóis entre os braços e disse: 

“- esses girassóis são pra você, dourados feito o sol, brilhantes feito os seus fios de cabelo”!

Sofia não se fez de rogada: 

“ – pra você é muito fácil, né? 
Me traz uma braçada de flores e acha que vou adocicar pro seu lado, é”?

Aborrecido, ele respondeu: “ – só quis ser gentil, mas se você não consegue ao menos ter educação, então, vá...”! 

Antes que o palavrão saísse, foi interrompido:
 “ – como ficou sabendo que essas são as minhas flores favoritas, hein”? 

Rodrigo deu um sorriso e saiu sem dizer uma palavra.

Alguns dias se passaram e nada desses dois se acertarem!  
Tiveram vários outros encontros e a cada vez, acontecia uma nova troca de farpas, iniciada, é claro, por Sofia. 

Dona Juraci, sua mãe, estava pensando seriamente em encaminha-la a um psiquiatra, mas Sofia, na verdade se divertia com aquele joguinho descabido e sem qualquer senso coerente.

A seguradora enviou outro carro para a bancária, da mesma marca, estalando de tão novo, e nem assim, ela parecia contente.
 
Durante um telefonema ao Rodrigo, atacou: 
“ – você é um sonso, um cretino musculoso metido a esportista, isso sim”!

Ele simplesmente desapareceu. Não tentou nenhum contato!
 
Na semana seguinte, depois de refletir, acredita-se, Sofia ligou para Rodrigo e sugeriu que se encontrassem, pois precisava se redimir. 

O encontro foi anteontem, num restaurante sofisticado na Rua das Pedras, Búzios, litoral norte do Rio de Janeiro. 

Sofia estava radiante, sorrindo, dentro dum vestido preto de tule, forrado por um tecido acetinado.
 
Rodrigo a cumprimentou com um abraço e os típicos dois beijinhos. 
E disse subitamente:

“ – Sofia, tudo o que eu mais quero nesse momento é ficar bem com você! 
Já pensou no quanto a gente pode aproveitar a companhia um do outro”?

Sofia fitou-o fixamente por alguns segundos, depois esfregou uma palma da mão na outra, abriu um sorriso de canto de boca e disse numa só frase:

“ – eu quero mesmo é transar contigo na cabine da sua caminhonete”!

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