quarta-feira, 5 de maio de 2010

sobre o exercício de escrever...

Bom, por onde eu começo, hein? Da última vez que escrevi aqui, deixei o finalzinho do texto com um ar meio (sem pé nem cabeça). Citei a minha antipatia pelo modismo que se tornou rotineiro entre os leitores de nomes consagrados como Cecília Meirelles, Clarice Lispector, Lia Luft, Marta Medeiros e ...

Que modismo é esse?

Então, um leitor, não necessariamente regular, abre um livro tal, lê a crônica tal, se identifica, destaca um trecho ou outro e faz o quê? ilustra os seus perfis pessoais no orkut, facebook, twitter e outros... fazendo com que todos pensem e até mesmo acreditem que: além da admiração pelo escritor citado, concluiu-se que o parágrafo enfatizado virou repentinamente o lema da própria vida.

As pessoas que me conhecem e, sabem dos meus gostos literários vão estranhar essa minha rusga. Afinal de contas, eu mesmo, vivo citando um textinho ou outro das coisas que leio desses mesmos autores. No meu perfil do orkut mesmo, ficou um texto da Clarice Lispector inteirinho - por um bom tempo. Sendo assim - por que de uma hora pra outra eu surgi com essa queixa?

Olha (...) a questão é - pra uma pessoa pegar um texto da Martha, por exemplo, destacar alguns pontos e publica-los como se fosse o seu lema de vida - o que a gente imagina de súbito? Que a pessoa ama essa autora, que esmiuça tudo o que foi publicado por ela e assim, encontrou uma afinidade tão grande que - é como se ela o conhecesse profundamente. Certo?

Não. Não necessariamente! No entanto, eu faço uma aposta com quem quiser que: - a maioria das pessoas que cita textos da Clarice ou Martha - como se fossem suas verdades profundas - não leu sequer um livro completo da mesma. Dirão: e daí? Precisa ler a obra completa pra gostar do cara? Respondo: não! Não mesmo! A minha pinimba é - pra você sair pelas ruas citando isso ou aquilo do fulano de tal, no mínimo, um aprofundamentozinho de causa mais a fundo você tem que apresentar...

Pra assumir que escrevo - antes de mais nada - eu leio. Uma coisa não funciona sem a outra. Faz parte do contexto mesmo. E quando eu publicar qualquer coisa que atinja um numero consideravel de pessoas, descobrirei gente que vai se identificar ou não com os meus escritos. Isso também é praxe. E todo autor quer ser lido, quer ser debatido, admirado, questinado. O marketing funciona dessa forma. A leitura promove não somente o conhecimento, mas sim, o discernimento, o tino, a ferramenta principal pros questionamentos e indagações...

Eu vi a Martha Medeiros vibrar de alegria porque o seu livro Doidas e Santas ganhou os palcos do teatro. Merecidamente! E isso é muito gratificante pro escritor. E você pode estar se perguntando agora: então por que Will, essa ladainha tão cheia de "cerca -lourenços"?

A verdade é: eu tenho medo! Medo de quando chegar a minha vez de ser lido, de ter alguma coisa transformada em peça, filme, sei lá o quê - me deparar com o fato de que as minhas ideias foram longe demais do meu eixo. E que alguem pode usar isso pra ostentar seu proprio lema de vida...

E isso não é bom? Claro! É ótimo pro ego de qualquer escritor - saber que as suas idéias foram assimiladas por leitores variados. E se isso servir pra melhorar a vida então...nada poderia ser mais realizador.

De onde foi que eu tirei esse tal medo aí? Eu testemunhei alguns tipos de leitores dessa categoria. Gente que catou uma coisa ou outra no jornal, no google, gostou, tomou pra si como tripé pra sua vida... agindo como se tivesse descoberto a mina de ouro e logo depois - nossa, percebi que tais tipos - não deveriam nunca ter lido a Martha que tanto aprecio. Fiquei pensando: se eu fosse a Martha e, de repente, pegasse um texto meu nas maos desses cachorros sem dono - ficaria muito desapontado. Imagina só que chato - um escritor integro, inteligente, que tanto contribui pro que chamamos de bem social - se ver como referência principal pra escalada de um criminoso reles, medíocre, burro...um estelionatário inescrupuloso, por exemplo... Dá um desgosto, né?

E pior ainda: é o inescrupuloso em questão - defender a sua propria cara de pau - porque a idéia lhe ocorreu como um álibi, uma justificativa...

Se você não entendeu o que eu quis dizer com esse texto, relaxe! Nem eu consegui externar com precisão o meu "achismo". Foi um lampejo que me ocorreu... como um desses surtos psicóticos de quinze minutos... sabe?

Não? Nem eu! Mas deixo uma idéia pra quem um dia pretender virar estelionatário - não me leiam de jeito nenhum, okay?